segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O fim é o início

Ontem, dia 12 de outubro, foi o último dia de Sub:Werther e o último dia de nossa ocupação no Teatro Gláucio Gill. O saldo foi bastante positivo, para a peça, para a companhia, para o teatro e para a Secretaria de Cultura. Não se trata só de números, mas, principalmente, da criação de uma rede afetiva que envolveu a ocupação, mobilizando artistas, público e funcionários em torno da tentativa de revitalização de um aparelho cultural que está prontinho pra ser usufruído (claro que não estou falando das reformas urgentes que o teatro precisa passar, além do seu reequipamento).

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Mais uma vez, um espetáculo nosso não contou com a presença de um crítico do jornal O Globo. Não que fosse fazer muita diferença em termos de público, mas esta informação - a desconsideração de um trabalho nosso por parte do principal jornal do Rio - deve ser lida com atenção: o que isso quer dizer?

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Terminamos nossa temporada e, no meio da desmontagem da peça, já agendávamos um encontro para falar do próximo projeto. Temos que nos inscrever no Prêmio Myriam Muniz, o único meio que temos de garantir alguma verba para continuidade do trabalho, além do Sesc Copacabana, que por duas vezes nos apoiou. É cedo pra falar deste novo projeto, vai depender da reunião que teremos. Mas a conclusão é esta: o fim é sempre um começo.


segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Crítica Lionel Fisher


Pertinentes reflexões sobre o amor

Lionel Fischer

..."Como bem explicita o release que nos foi entregue, a peça "...coloca em cena personagens que tentam descobrir se ainda há espaço para o discurso amoroso dentro do mundo contemporâneo". Trata-se, portanto, de um tema da maior pertinência, uma vez que a modernidade prioriza tudo, menos os sentimentos.

Mas o que nos gerou forte impacto foi a estrutura narrativa adotada, que foge por completo ao realismo, já que estão em cena o próprio Goethe, os principais personagens de seu romance (Werther e Charlotte) e pensamentos materializados de Barthes, todos interagindo no sentido de investigar a viabilidade do amor na atualidade, como já foi dito. E o resultado é tão instigante quanto perturbador.

Walter Daguerre criou uma dramaturgia que despreza certezas e enfatiza a dúvida, valendo-se basicamente de questionamentos para os quais, não raro, não existem respostas que gerem um mínimo de conforto. E essa escrita "desconfortável" encontrou excelente tradução cênica, já que a montagem assinada por Marco André Nunes consegue valorizar, de forma sensível e vigorosa, os principais conteúdos em jogo, cabendo destacar a atmosfera soturna e claustrofóbica que mantém o espectador em estado de permanente tensão durante todo o espetáculo, sem dúvida um dos melhores em cartaz na cidade.

Quanto ao elenco, todos os atores se entregam com paixão e pleno conhecimento de causa aos personagens que interpretam, estabelecendo uma contracena apaixonante e apaixonada, precisa no tocante ao ritmo, rica no que concerne ao universo gestual e irrepreensível no que diz respeito ao texto articulado.

Com relação à equipe técnica, consideramos de altíssimo nível o trabalho de todos os profissionais envolvidos - Diogo Ahmed e Bruno Agra (direção musical), Flávio Graff (cenário e figurino), Renato Machado (iluminação) e Ana Paula Bouzas (direção de movimento)."

SUB: WERTHER - Dramaturgia de Walter Daguerre. Direção de Marco André Nunes. Com Aquela Companhia. Teatro Gláucio Gill. Sexta e sábado, às 21h. Domingo, às 20h.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

O fim (?) da "peça maldita"

Pedrinho acha que Sub:Werther é uma peça maldita: durante os ensaios, há dois anos atrás, ele passou por um turbulento momento em sua vida afetiva; estreamos durante a Copa do Mundo de 2006, o que foi desastro em termos de público; Jaime, nosso ex-Escritor, passava por um momento financeiro desesperante; nesta nova temporada (cuja estréia foi no dia 8/8/8), o último fim de semana de ensaio foi estressante, com indas e vindas de texto e de propostas; Ricardo Kosovski foi assaltado e a peça foi cancelada no domingo, dia 10; no domingo seguinte, no início da peça, o teatro ficou completamente sem luz...

Por outro lado, nesta temporada, Sub:Werther surpreendeu, tento um público bastante razoável e muitos elogios. A peça está muito melhor, segundo nossa opinião e dos que a assistiram dois anos atrás. Isso se deve por vários fatores: o texto foi enxugado e algumas novas informações foram acrescentadas; a entrada de Ricardo deu novo gás ao elenco, que está no todo muito mais maduro e com propriedade da peça; a luz de Renato parece que foi pensada para o Gláucio Gill tamanho o seu melhor aproveitamento naquele palco... Além disso, tivemos uma grande experiência nesses dois anos, o Lobo da Estepe.

Este deveria ter sido o último fim de semana do espetáculo, mas, devido "ao grande sucesso de público e de crítica", vamos continuar a partir da primeira semana de setembro. O patinho feio da companhia está se revelando um belo cisne.

WALTER DAGUERRE


segunda-feira, 11 de agosto de 2008

A ESTRÉIA

A estréia de Sub:Werther foi ótima, o teatro lotado e tudo funcionando na mais perfeita órdem: luz, som e, claro, os atores. A entrada de Ricardo Kosovski deu um novo gás para esta peça que até então tinha tido uma vida curtíssima, apenas três semanas no Planetário da Gávea. Bom, teremos somente mais três semanas de apresentação, mas o grupo já tem uma história que agrega a esta temporada uma experiência muitissimo interessante: todos estão mais maduros, mais conscientes, mais apropriados do texto, da cena e da identidade do grupo. Por isso também, e talvez principalmente, a estréia tenha sido tão satisfatória.

Depois da apresentação, todos foram para o Café do Teatro onde Zé Luiz Rinaldi apresentou seu show MEP - Música Extemporânea Brasileira: boa música, caipirinhas e cerveja, boas companhias...

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

8.8.8

É uma data especial. Tão especial que o Comitê Olímpico Chinês prorrogou para esta data a abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim. O 8 é o número do infinito, pois, colocado de lado, é igual ao símbolo que representa o infinito.

É a data da estréia de 'Sub:Werther' na Ocupação do Gláucio Gill.

Curioso que há dois anos atrás este mesmo espetáculo estreava durante a Copa do Mundo. E agora, nas Olimpíadas.

RIODIVERSIDADE - Leituras Dramatizadas

Dentro de nossa ocupação temos um ciclo de leituras chamado RioDiversidade que acontece todas às quartas-feiras e, como o nome diz, tem por objetivo apresentar textos inéditos de autores cariocas.

Até agora tivemos:

- 'Idas e Vindas', de Julia Spadaccini e Rodrigo Nogueira. Direção do mesmo. Com Ida Gomes e Debora Olivieri.

- 'Obtuário Ideal', de Rodrigo Nogueira. Direção do mesmo. Com o mesmo e Fernanda Félix.

- 'Entre Análises', de Julia Pamplona. Direção da mesma e Diana de Hollanda. Elenco enorme!

- 'Vão Paraíso', de Walter Daguerre. Direção José de Abreu. Com Bianca Byington, Candido Damm, Bianca Comparato e Álamo Facó.

- 'Drama Diário', de Jô Bilac. Direção de Viníicus Arneiro. Com Guilherme Leme, Isabela Garcia e elenco do Teatro Independente.

As leituras acontecem no Café do Teatro e a média de público tem sido bem simpática.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Um processo sem fim

Na passagem do Prólogo para a Cena 1, uma voz em off diz:

"É tão difícil desvendar a verdadeira causa, os verdadeiros fios de uma ação – inclusive em seus aspectos mais simples – quando tudo o que se tem são os restos mortais de todas as épocas reunidas na desoladora visão de uma terra arrasada: destroços por todos os lados; ruínas; fragmentos".

Certamente uma angustia acompanha a todos os que se dedicam em buscar a "verdade", seja ela religiosa, científica, política, econômica, amorosa... E artística!

"Sub:Werther" continua sendo nosso trabalho mais difícil. Na segunda fui ao ensaio e testemunhei a tentativa de meus amigos em aproveitar as melhores idéias da versão nova do texto com a versão antiga. O trabalho é de colaboração e eles têm o direito de mexer na dramaturgia proposta - esse é o desafio deste tipo de processo.

No dia seguinte, liguei para Marco André e juntos compartilhamos a sensação de que algo estava se perdendo sem que nada mais contundente estivesse sendo colocado no lugar. Acontece que a primeira versão de Sub:Werther, ainda que tivesse problemas estruturais (ao nosso ver, não que isso chegasse ao público), era um exemplo do rigor, da disciplina e da plasticidade que sempre buscamos em nossos trabalhos. Havia uma sustentação de climas, atmosferas, situações e sentimentos, que transmitiam aos espectadores a sensação de que algo estava acontecendo ali.

A vontade de mudanças era legítima: concluímos que Sub:Werther estava na faixa de transição entre um espetáculo de narrativa mais clara e linear (Projeto K) e outro em que a narrativa era dada por associação de imagens (Lobo No1 [a estepe]), e que portanto trazia em seu escopo uma incômoda esquizofrenia. Reestrear o espetáculo nos pareceu o momento oportuno de executar mudanças.

Entretanto, algumas pedras se colocaram no meio do caminho: 
- a entrada de um novo ator: Jaime Leibovitch, o nosso Goethe, saiu e em seu lugar entrou Ricardo Kosovski. Por um lado isso foi ótimo, afinal, sempre desejamos ter a dobradinha Ricardo-Pedrinho, até para aproveitar a semelhança entre pai e filho (Goethe e Werther). Acontece que a peça é fruto de um processo de meses e Ricardo tinha a dura missão de se integrar ao trabalho em dias.
- o pouco tempo de ensaio: o que já torna difícil reensaiar, o que diria então recriar?!
- o fato de Marco André estar estreando um outro trabalho na semana anterior: o processo é colaborativo, mas a palavra final é dele. Dependemos de sua presença, em todos os sentidos.
- a falta de verba para se mudar elementos, como  trilha sonora, iluminação, cenário ou figurino.

Todos esses fatores associados engessaram nossas ações, transformando obra em reforma: não poderíamos aprofundar mudanças, mas, tão somente, cortar ou acrescentar diálogos. O que aconteceu, então, foi que minhas sugestões se apresentaram como maquiagem, ou novos acessórios a um texto que, com todos os seus defeitos, estava bastante bem organizado. A remenda não funcionou e o barco me pareceu à deriva, pronto para naufragar.

Depois da nossa conversa por telefone, decidimos, Marco e eu, voltar com a primeira versão do espetáculo. Mandei um e-mail convocatório para os atores e cheguei ao ensaio com duas cópias do texto antigo. Claro que o anúncio de que voltaríamos a versão anterior causou certo mal estar, afinal, estamos a três dias da estréia; mas, graças à compreensão e disponibilidade do elenco, não foi difícil um retorno, nem para os que já fizeram o espetáculo, nem para Ricardo, que em verdade teve que fazer poucas marcas novas e decorar uma fala ou outra a mais.

Às 2 e meia da manhã de ontem pra hoje, terminamos o passadão, já com a versão anterior do espetáculo recuperada (mas, evidentemente, acrecescida de cortes e acréscimos que se mostraram eficientes na nova versão). 

Todos cansados, mas com a sensação de dever cumprido. Eu, mais tranqüilo.


WALTER DAGUERRE