segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Crítica Lionel Fisher


Pertinentes reflexões sobre o amor

Lionel Fischer

..."Como bem explicita o release que nos foi entregue, a peça "...coloca em cena personagens que tentam descobrir se ainda há espaço para o discurso amoroso dentro do mundo contemporâneo". Trata-se, portanto, de um tema da maior pertinência, uma vez que a modernidade prioriza tudo, menos os sentimentos.

Mas o que nos gerou forte impacto foi a estrutura narrativa adotada, que foge por completo ao realismo, já que estão em cena o próprio Goethe, os principais personagens de seu romance (Werther e Charlotte) e pensamentos materializados de Barthes, todos interagindo no sentido de investigar a viabilidade do amor na atualidade, como já foi dito. E o resultado é tão instigante quanto perturbador.

Walter Daguerre criou uma dramaturgia que despreza certezas e enfatiza a dúvida, valendo-se basicamente de questionamentos para os quais, não raro, não existem respostas que gerem um mínimo de conforto. E essa escrita "desconfortável" encontrou excelente tradução cênica, já que a montagem assinada por Marco André Nunes consegue valorizar, de forma sensível e vigorosa, os principais conteúdos em jogo, cabendo destacar a atmosfera soturna e claustrofóbica que mantém o espectador em estado de permanente tensão durante todo o espetáculo, sem dúvida um dos melhores em cartaz na cidade.

Quanto ao elenco, todos os atores se entregam com paixão e pleno conhecimento de causa aos personagens que interpretam, estabelecendo uma contracena apaixonante e apaixonada, precisa no tocante ao ritmo, rica no que concerne ao universo gestual e irrepreensível no que diz respeito ao texto articulado.

Com relação à equipe técnica, consideramos de altíssimo nível o trabalho de todos os profissionais envolvidos - Diogo Ahmed e Bruno Agra (direção musical), Flávio Graff (cenário e figurino), Renato Machado (iluminação) e Ana Paula Bouzas (direção de movimento)."

SUB: WERTHER - Dramaturgia de Walter Daguerre. Direção de Marco André Nunes. Com Aquela Companhia. Teatro Gláucio Gill. Sexta e sábado, às 21h. Domingo, às 20h.

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