segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Não convence! - elogio do mau ator

Três passagens:

O grande teatro de Oklahama vos chama! E chama só hoje, só uma vez! Quem perder a oportunidade agora, a perderá para sempre! Quem pensa no futuro nos pertence! Todos são bem vindos! Quem quiser ser artista, apresente-se! Somos um teatro que pode aproveitar a todos, cada qual em seu lugar! Quem decidir juntar-se a nós receba aqui e agora as nossas felicitações!
Franz Kafka, Amerika

Ah, como era fascinante! Como ela gostava daquilo! Como amava sentar ali e assistir a tudo! Era como uma peça de teatro! Era exatamente como uma peça de teatro. Quem não acreditaria que o céu, ao fundo, não era pintado? Mas foi só quando um cãozinho marrom entrou trotando solenemente e depois saiu lentamente, tal como um cãozinho de “teatro”, um cãozinho que fora drogado, que a Srta. Brill descobriu o que tornava tudo tão emocionante. Estavam todos num palco. Não eram apenas a platéia, não ficavam só assistindo; estavam também atuando. Até mesmo ela tinha um papel e vinha todos os domingos. Não havia dúvida de que alguém teria notado se ela não estivesse lá – afinal, ela fazia parte do espetáculo! Contudo, aquilo explicava por que ela fazia tanta questão de sair de casa exatamente à mesma hora, todas as semanas – assim não se atrasaria para o espetáculo – [...] Estava no palco.
Katherine Mansfield, Senhorita Brill

Assim como o dramaturgo cria um drama a partir de um punhado de personagens, assim construímos, com as peças de nosso eu despedaçado, novos grupos com novos jogos e atrações, com situações eternamente novas.
Herman Hesse, O lobo da estepe



Denis Diderot, em seu ensaio Paradoxo sobre o comediante, defende uma idéia a respeito do trabalho do ator:
o ator (ou o comediante) deve ter uma grande penetração psicológica mas nenhuma sensibilidade, e deve ser perito na arte de imitar todos os tipos de caráteres e papéis. Se o comediante fosse sensível, lhe seria permitido atuar duas vezes um mesmo papel com o mesmo calor e o mesmo sucesso?, pergunta o filósofo. Bastante caloroso na primeira apresentação, continua Diderot, ele estaria extenuado e frio como um mármore na terceira. Ao passo que o imitador atento e discípulo atento da natureza, na primeira vez que se apresentar no palco sob o nome de Augusto, de Cina, de Orosmano, de Agamenon, de Maomé, copista rigoroso de si próprio ou de seus estudos, e observador contínuo de nossas sensações, sua interpretação, longe de enfraquecer-se, se fortalecerá com novas reflexões que terá recolhido; ele se exaltará ou se moderará, e com isto você vai ficar cada vez mais satisfeito. Já os comediantes, na vida real, pelo fato de não serem mais que imitadores, quando não são bufões, são polidos, cáusticos e frios, faustosos, dissipados, dissipadores interessados, mais impressionados por nossos ridículos que tocados por nossos males; têm um espírito bastante sereno ante o espetáculo de um acontecimento lastimável, ou ante o relato de uma aventura patética; são isolados, vagabundos, à mercê dos grandes; têm poucos modos e nenhum amigo.

por outra via, Peter Zsondi regustra que, no drama absoluto, a relação ator-papel de modo algum deve ser visível; ao contrário, o ator e a personagem têm de unir-se, constituindo o homem dramático.

Partindo destes dois horizontes, podemos pensar algumas coisas para o primeiro teatro que Heller encontra como sendo a sua vida. O teatro do mundo, em que todos representam papéis, parece ser o teatro constituído por atores que se fundem às suas funções, ou personagens, sem, no entanto, estar envolvido nelas, preservando uma espécie de separação entre função e afeto. é bem paradoxal mesmo, quando pensamos que o ator deve aparecer como um e conservar-se internamente dois. algo como um ator cientista de laboratório, um ator de gabinete. Cada coisa no seu lugar. Uma técnica poderia realizar esta operação. O bom ator, com isso, seria o homem dramático, envolvido e ausente.
O mau ator é aquele que não controla suas emoções. são aqueles indivíduos que, pela falta de domínio de si próprios, deixam vazar outras tantas expressões que, de algum modo, perspectivizam a própria atuação.
No teatro dos homens dramáticos que lidam perfeitamente com a tarefa paradoxal a que são submetidos, Harry destaca-se por não conseguir deixar de se envolver afetivamente no mundo. Harry não se encaixa no próprio Harry, seja no início como auto-crítica, seja no final como multiplicação de Harry´s.
A partir disso, o que temos é uma revelação constante, através da atuação de Harry, da ficção, do teatro. Harry é o primeiro a mostrar o teatro por não conseguir se enquadrar nele. Harry não convence. Harry mostra o ridículo de tudo, por atuar de modo ridículo. Está na ordem dos bufões, cáusticos e frios, faustosos, dissipados, dissipadores interessados. O ridículo da cena vem de Harry. Ele evidencia o ridiculo da situação por não conseguir dançar conforme a música.

Em Kafka, não havia saída.
Em Hesse, há um outro teatro.

Neste outro teatro, cada teatro é um personagem. Harry, com isso, não tem que atuar no espetáculo do mundo. Harry deve fazer de si o seu próprio teatro. Se o mundo é um teatro, porque eu também não posso sê-lo? Se sou teatro, sou mundo. Sou então ator-teatro-mundo-personagem. Eu sou mundo porque sou teatro. Sou personagem não porque estou inserido em uma fábula de outrem. Sou personagem porque crio os meus próprios personagens. Crio meu tempo, meu espaço, minha iluminação, meu cenário, meu diálogo, minhas rubricas, meus atos, meu entre-atos, meus prólogos, meus epílogos, minhas pausas, meus públicos, enfim, crio o teatro de mim.

O mau ator não convence. O mau ator não engana ninguém. Das duas, uma: ou ele tenta infinitamente convenver; Ou ele recusa-se a convencer em um teatro para criar, produzir, devir teatro. Aí então a relação ator-papel é substituída pelas multiplas relações ator-luz, ator-cenário, ator-música, ator-figurino, ator-objeto, todas produzindo o ator-teatro.

E se o ator é teatro, ele é a sua própria plateia. nesse sentido, a plateia tradicional torna-se prescindível. o que resta ao nosso bom e velho público? Resta a eles tornarem-se teatro, eles próprios. Neste momento o palco vira platéia. E o espectador é o seu próprio ator. Um mau ator.

considerações a respeito das estruturas narrativas de lobo da estepe e demian

o livro 'o lobo da estepe' é iniciado por um préfacio do editor, um sobrinho que escreve a respeito do livro que segue. trata-se de um prefácio ficcional, não um prefácio real, escrito por um editor verdadeiro. o prefácio, como texto intermediário que apresenta a leitura de um outro texto está, ele mesmo, no registro ficcional do escrito que segue.
desse modo, trata-se de um texto que fala de si mesmo. de uma ficção que, em sua primeira parte, ficcionaliza o próprio ato de escrita do texto.
como recurso narrativo, o préfacio ficcional do texto traz uma série de referências que servem como fundamento, quadro, moldura para a ação que segue.
só que tais referências não estão baseadas no mundo real. são elas mesmas fruto de uma mesma cabeça, a do escritor herman hesse que escreveu todo o livro, inclusive o prefácio.
trata-se, portanto, de criar uma espécie de fábula, um canal fabular por onde irá correr toda a água de heller. arrisco a dizer que o prefácio é a única ficção do livro.
na estrutura cênico-dramatúrgica, penso que seria uma espécie de prólogo da encenação. porém este prólogo não é apenas um prólogo, como o prefácio não é um mero prefácio.
este prólogo irá dizer sobre si, ou seja, sobre a encenação. sobre os "escritos" da encenação. mais do que situar a história de heller, este prólogo deve situar a história da encenação. um prólogo que fala de si. que cria para o que vem a seguir uma fábula: algo como o prólogo que xeretou os ensaios, as salas de ensaios, os cadernos dos atores, perseguiu o diretor, juntou tudo e vai apresentar o que segue. um prólogo que afirme e negue ao mesmo tempo a sua autoria. 'eu juntei tudo mas o autor disto [no livro, são as anotações; na encenação são as cenas] é outro'.
e talvez surgiria um nome como: as anotações de aquela companhia, só para loucos.
ou ainda: as encenações de aquela companhia, só para loucos.

em demien, há um narrador que desliza entre dois tempos: o do tempo recordado e o do tempo de recordar. mais do que utilizar o recurso de justapor dois tempos distintos, seja em uma cena, seja em um texto, o desafio que surge é o seguinte: como fazer um tempo aparecer pelo outro. mais do que dividir a partir de uma convenção o que é cena do passado e o que é cena do presente é perguntar como o passado surge no presente. como pode aparecer sinclair jovem no corpo e na memória de um heller senhor? como se cria este link para a infância sem que eu tenha que me tornar uma criança? o senhor em devir criança, talvez seja resposta. pois ele não se torna uma criança, mas devém criança.

percebo que demian se relaciona ao lobo da estepe a partir de alguns pontos:
- demian esclarece algumas questões do lobo. corrijo: demian traz novos elementos ao lobo. ou melhor: demian revela outras facetas de alguns elementos utilizados no lobo. em demian vemos a taverna (a taverna como refúgio), o vinho, o riso, o pinheirinho (o pinheirinho de Natal que há na casa de sinclair - bom mote para cenas com o pinheirinho) e, principalmente, a voz.
Esta voz, que me parece é a mesma do tratado:
"como no sonho, a voz de Demian e sua vigorosa influência se apoderaram de mim. Só consegui assentir de novo. Acaso não estava falando com uma voz que só poderis brotar de mim, uma voz que tudo sabia? que tudo sabia? Que sabia melhor e mais claramente do que eu"
"E sempre é bom termos consciencia de que dentro de nós há alguém que tudo sabe, tudo quer e age melhor do que nós mesmos"
Esta voz que tudo sabe é o olhar do jogador de xadrez que joga suas facetas e cacos e disto faz um mundo.
O tratado, assim como a voz, como uma fala neutra se dirige ao eu e abre-lhe a vista. uma neutralidade ativa, performática. o sim do casamento. A voz é sem corpo mas produz casados. Ela vem e, num instante, transforma tudo. é como se o tratado durasse apenas um instante. Mesmo com as longas páginas, aquilo é de um arrebatamento que percorre o corpo em um segundo. é uma voz-tratado que faz cair a ficha. plim, plim. Esta voz deve ser uma conexão energética, uma sinapse. Esta voz é o gesto do jogador que desarma um jogo para produzir outro em um único movimento.
e chega por hoje.

sábado, 15 de dezembro de 2007

PRIMEIRA ESCALETA

Escaleta – o lobo da estepe

Primeiro, a relação de Estações:

1) Prólogo
2) Quarto
3) Rua
4) Taverna
5) Casa do professor
6) Cemitério
7) Águia Negra
8) Baile de Máscaras
9) Teatro Mágico
Agora, o esquema geral, incompleto, das 2 primeiras Estações:
PRÓLOGO
- Quem: Sobrinho da dona da pensão
- Ação: falar / mostrar / explicar / expôr / justificar
- Objetos: os do quarto / algum adereço

- Trajetória: Sobrinho se apresenta ao público e explica quem é Harry Haller e por quê está apresentando sua história.

QUARTO
- Quem: Harry Haller / Sobrinho / Tia / Hermínia / Maria
- Ação:
> Harry Haller: ler / escrever / pensar / falar / beber / fumar / andar / contemplar e regar (o pinheirinho) / receber e carregar caixas / comer / Tentar matar-se / ouvir música / dançar / conversar / transar / presentear (a Maria)
> Sobrinho: vasculhar / espionar / remexer / ler / consertar rádio
> Hermínia: falar / ordenar / ensinar / conversar / maquiar-se / dançar / ouvir música / folhear / fumar / beber
> Maria: transar / falar / maquiar-se / receber presentes / perfurmar-se / pentear-se / fumar / beber / comer
> Tia: oferece refeições / oferece e toma chá, conversa
- Objetos: livros / Caixa de livros / vinho / cigarros e cinzeiros / navalha / espelho / malas / regador de planta / bandeija de comida / rádio / gramofone / discos / diversos presentes (para maria) / maquiagem e perfumaria
1 - Trajetória Quarto:
> Sai debaixo da montanha de livros, como um afogado.
> Lê compulsivamente / atira livros para longe
> Observa pinheirinho
> Escreve compulsivamente e declama versos com fúria
> Qual a melhor forma de suicídio? os remédios para as dores ele já havia tentado antes. Uma bala de revolver ou... descobre a navalha e em frente ao espelho, ensaia matar-se
> Entra e sai do quarto algumas vezes
> Sobrinho entra e vasculha na ausência de HH
> Entra com caixa de livros
> Recebe caixa de livros
> Retorna ao quarto bêbado algumas vezes
> Retorna com o panfleto TLE, procura a poesia dos imortais
> Veste-se para o encontro com o professor
> Retorna no dia seguinte depois da noitada no águia negra e encontra a Tia; tomam chá, enquanto o sobrinho conserta um rádio.
> HH mostra-se ansioso para encontro seguinte com Hermínia, pena na morte, relaciona-se com a navalha
> Apronta-se e sai para encontro com Hermínia
> Volta com Hermínia e o gramofone
> Hermínia examina e remexe todo o quarto
> Conversam
>Hermínia dá lição de dança a HH
> Hermínia sai; HH tenta ler e se concentrar, mas não consegue
> HH resisti ao gramaphone e finalmente cede. Repete, de cueca, as lições de Hermínia
> HH vai novamente ao Águia Negra
> HH volta e dorme sozinho, mas acorda com Maria nua ao seu lado
> Diálogo e sexo entre HH e Maria. Ele retira Maria às encondidas
> HH adormece sonha com todas as mulheres de sua vida.
> HH é acordado por Hermínia. Eles conversam sobre o Maria (o presente de Hermínia para ele) e do grande baile de máscara, que ela veio lhe trazer o convite. Conversam sobre as transformações em sua vida, e hermina impressiona HH com seu discurso. Ela reforça o pacto que existe entre eles.
> Hermína sai. HH fica com seus pensamentos, ouve a gargalhada de Goethe - ele finalmente a compreende. Sai ao encontro de Maria no Àguia Negra (véspera do baile).
> HH arrumasse para baile está ansioso e se barbeia com a navalha em frente a espelho.Está pronto para o baile.

2 - Trajetória na Rua:
> HH caminha pelas ruas molhadas e escuras com ar pessimista.
> Ronda pela rua escura e enlameada e chega próximo a um muro antigo e traquilo, paralelo a velha Igreja em um beco da cidade.
> HH percebe uma porta no muro e estranha não ter reparada até então.
> HH decifra palavras fugitivas que se formam no muro: " teatro mágico. Entrada só para os raros, só para os raros."
> HH força a porta mas ela não abre o letreiro misteriosamente se apaga.
> HH volta a andar pelas ruas e nota refletido no asfalto molhado: "só... pa... ra... loucos."
> HH sente frio e anda pela cidade ansiando pelo teatro mágico.
> Entra em uma taverna para beber vinho.
> Sai da taverna e pelas ruas observa os jovens festejando nas saídas dos dancings e crítica a nova música e o novo estilo de vida.
> HH retorna ao mesmo muro alimenta a possibilidade de entrada no teatro. Deseja boa noite ao muro, ironizando-o pois qualquer dia será derrubado ou estará repleto de cartazes .
> HH surpreende-se com um homem saído do beco, percebe que ele carrega uma haste que anuncia o teatro mágico.
> conversa rápido com o homem e ele lhe entrega o tratado. some no escuro.
> HH lê de uma só vez o tratado no meio da rua. Volta a casa a procura da poesia do imortais.
> Dia seguinte volta as ruas atrás do homem da noite passada e depara-se com um cortejo e carro fúnubre.Pensa em sua própria morte e na farsa daquele ritual.
> ao fim do cortejo acho que reconhece o tal homem do panfleto, pergunta sobre o teatro e ele manda HH ir ao Àguia Negra.
>Sente-se terrivelmente mal e corre pelas ruas da cidade.
> encontra com o jovem professor em um estado lastimável , que cordialmente o convida para um jantar a sua casa. Despedem-se.
>A noite diante da casa do professor HH observa pela janela a casa com crítica e ironia.
> HH sai altrado da casa do professor e corre pelas ruas como um lobo. Pensamentos de sucidio, a promesa dos 50 anos. entra em uma taberna para beber.
> Sai da taberna determinado ao suicidio. Anda pela cidade e chega ao acaso na porta do águia negra. Resolve entrar.
>Encontro com Pablo na rua próximo ao cais do porto. Discussão sobre música. Finalmente Pablo conversa com HH.
> HH vai a um concerto em uma igreja ouvir sua música antiga e emociona-se.
>HH vaga pela cidade na véspera do baile de máscara. Compra castanhas e flores com vendedores na rua.Passa em frente aos cartazes luminosos do cinema, decide entrar e ver um filme sobre Moises, para conter a ansiedade.

3 - Trajetória lugares fechados fora de casa: Taverna (Elmo de Aço)/ café com Hermínia e Maria/Águia Negra:

> HH bebe vinho para anestesiar suas dores e as perturbações causadas pela visão do teatro mágico. Retorna aquela taverna depois de 25 anos. Não havia mudado muita coisa. Observa os freqüentadores, pacíficos bebedores. Melancolia e nostalgia. Sai.
> Chega a taberna após o encontro com o professor. Está atordoado, teanta acalmar-se com bebida ( vinho, conhaque). O lobo e homem brigam dentro dele. A bebida intensifica o estado de tormenta. Sai da taberna decidido a matar-se.
> HH chega ao acaso ao Águia Negra e encontra Hermínia. (Ela se assusta com o estado alterado, ele se encanta com ela. Ela o obriga a comer. Ela ordena e ele obedece. O jogo que estabelece: ele, a criança, ela, a mamãe. Ela arruma se roupa para dançarem o shimmy. Ele não sabe dançar. Ela o ironiza: aprendeu a ler e escrever, mas não a dançar? Ele se defende conta história do professor. Ela o ironiza ainda mais, ele é um garotinho que a faz rir. Ele quer saber seu nome. Ela vai dançar esta noite está com outro homem, mas promete que voltará.
> Sonho com Goethe.
> HH acorda e conversa mais um pouco com Hermínia. Combinam o próximo encontro. Ela comenta sobre sua idéia dos homens santos.
> Restaurante com reserva marcada. Encontro HH e Hermínia. Ele adivinha seu nome, ela é parecida com o amigo de juventude Hermann. Ela se fascina com ela.
> Hermínia revela o pacto de morte com HH. E diz que será sua professora de dança, mas para isso terá que comprar um gramophone.
> HH e Hermínia vão a um “club” por em prática as lições de dança. Ela o encoraja a dançar com Maria. Em um intervalo ele conhece Pablo, ele pouco fala. Hermína comenta que ele produz drogas milagrosas: para dor, sono, sonhos eróticos, etc.
> Mais uma noite em um “club”: dois dias antes do baile de máscaras. Dança com Maria. Demonstra antipatia em relação a Pablo, comenta isso com Hermínia, ela lhe revela que teve relações sexuais com Maria. Hermínia sai pois tem outro compromisso esta noite.
> Ficam HH, Maria e Pablo. Eles experimentam drogas. Trepam os três.
> Véspera do Baile. Jantar com Maria (mesmo local com Hermínia). Conversam sobre os pares que irão no baile.

4 - Trajetória no baile de máscara:

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Estações: paisagens da cena – o quarto

1 .A trajetória do quarto a partir do discurso do sobrinho-editor:

- a reunião dos manuscritos de harry dispersos no quarto pelo sobrinho

este livro “o lobo da estepe” origina-se da reunião dos manuscritos de harry haller que se encontravam dispersos no quarto alugado. Isto é, só temos acesso a esse livro graças a ação intromissora do sobrinho-editor no quarto da harry. Essa é paradoxalmente a primeira e a última função desempenhada por esse espaço no livro. primeira, se observarmos da perspectiva de quem reuniu os manuscritos e editou o livro –o livro materialmente se funda aí, a partir da reunião dos escritos. última, se observarmos da perspectiva de harry que já havia vivido todas aquelas experiências, e não estava interessado realmente em escrever livros mas tão somente relatar suas aventuras, que por final pelas mão de um outro se tornaram um livro.
minha sugestão é que a possível cena do sobrinho editor reunindo as papeladas de harry possa ser vista além de apresentação ou prólogo ( como walter já havia comentado) mas talvez possa ser realizado como um espécie de epílogo ou mesmo última cena que ocorre nesta estação-quarto.

primeira referência do quarto no livro ( p.13):

“ interessou-se por um compartimento no andar superior, bem como por um dormitório contíguo. Voltou dias depois, trazendo duas malas e uma grande caixa com livros.”

Harry paga adiantado causando boa impressão e estranhamento pelo sobrinho: “procurou ficar a par de tudo que dizia respeito à calefação, água , serviços e os hábitos da casa; ouviu tudo atentamente e com muita amabilidade, mostrando-se de acordo com tudo. Em seguida, ofereceu também um pagamento antecipado sobre o aluguel , embora não parecesse estar absolutamente de acordo com nada daquilo.”

O quarto antes de harry cheira a limpeza , a ordem, a uma vida amistosa e decente (pinheirinho), pouco à pouco vai se transfomando em uma toca repleto de caixas com livros que aumentavam de tempos em tempos, cinzeiros, garrafas de vinho, caixa de aquarela com pó por cima, nas paredes recortes de jornais, imagens, retrato de mahatma gandhi, fotos que eram trocadas constantemente, o retrato de uma mulher (antiga esposa), navalha, espelho etc.

-Primeira impressão que harry despertou no sobrinho (p.14): não era muito alto, mas tinha o andar e a postura de cabeça das pessoas espigadas; vestia um sobretudo de inverno, de talhe moderno e cômodo, e quanto mais estava decentemente vestido, embora com certo desalinho; o rosto barbeado e os cabelos curtos , onde viam aqui e ali manchas grisalhas. A princípio, não me agradou nada seu jeito de andar; tinha algo de pesado e inseguro que não se harmonizava com o perfil agudo e enérgico nem com o tom e a índole de sua conversação. Somente mais tarde é que soube estar enfermo e que caminhar lhe resultava incômodo.”

Harry tem o mesmo respeito pelo sobrinho que tem pelo pinheirinho. (p.26)

Harry tem uma aparência a primeira vista normal de um homem de meia-idade mas há algo que sobre o crivo do outro, desorganiza o olhar burguês, há uma aparência de normalidade, de convenção sombreada por um atmosfera de estranheza. Como traduzir isto cenicamente?

Imagem: o sobrinho ou senhoria deparam-se com harry vivendo alguma situação limite: ou afogando-se em seus livros no quarto ou sendo bombardeado por seus livros, mas no entanto se comportam e se relacionam como se essa imagem irreal não estivesse ocorrendo, tratam-no naturalmente. Um certo ar kafkiano de um espanto ou experiência fantástica que é naturalizada por um outro que não se espanta não atinge essa dimensão do terror e pesadelo. desta modo são eventos puramente subjetivos que não chegam a afetar concretamente o outro, mas acaba por comunicar um estranhamente no nível sutíl.

- uma dado importante: harry pede que a policia não seja comunicada de sua presença

Como o sobrinho descreve de seu ponto de vista as transformações vividas por harry através de herminia & cia (p.31)

“Os acontecimentos , em parte fantásticos, da ficção de haller situam-se provavelmente nos últimos tempos de sua permanência conosco e não duvido de que haja neles boa dose de fatos reais exteriores. Naquele tempo nosso hóspede tinha de fato uma conduta e um aspecto diferentes, permanecia por muito tempo fora de casa, às vezes durante toda noite e não tocava nos livros. As poucas vezes em que o encontrei pareceu-me surpreendentemente vivo rejuvenecido, e às vezes até mesmo feliz”

O sobrinho também observa o aparecimento de uma amante que visita harry por algumas vezes (maria? hermínia ? ou outra mulher desconhecida? da foto no quarto talvez?) :

p.31 - “naquele tempo teve um altercação, extraordinariamente violenta e até mesmo brutal, com a amante , que voltara a aparecer –altercação que repercutiu por toda a casa, e de que haller, no dia seguinte, pdeiu desculpas a minha tia.”

2. a trajetória do quarto da perspectiva das anotações da harry haller:( a ser desenvolvido)

domingo, 9 de dezembro de 2007

Primeira reunião de dramaturgia

Hoje, domingo 09-12-2007, Pedro e eu fizemos nossa primeira reunião de dramaturgia. Levantamos algumas questões que vamos destrinchar melhor nos próximos encontros, mas que vou tentar expor de maneira resumida:

1) A espinha dorsal da dramaturgia será mesmo o livro O Lobo da Estepe. Ainda não sabemos como elementos dos outros dois livros de Hesse - Sidarta e Demian - vão entrar, mas especulamos algumas possibilidades.

2) Traçamos um gráfico com a trajetória que Harry Heller, nosso protagonista, cumpre do início ao final de sua existência - a existência a qual temos acesso, ou seja,  do momento em que ele aluga o quarto de pensão até sua entrada no Teatro Mágico. Do ponto de partida, ou seja, o aluguel do quarto, Heller certamente caminharia para o suicídio. Este, portanto, seria seu ponto de chegada. Entretanto, um acontecimento altera essa reta: o Tratado do Lobo da Estepe, que lhe é dado na rua, em forma de folheto, por um desconhecido. A partir deste acontecimento, a existência de Heller toma um outro rumo, não abruptamente, mas devagar e sempre - um caminho sem volta: ele vai a uma casa noturna chamada Águia Negra e lá conhece Hermínia, depois Maria, Pablo, até que chega ao Teatro Mágico.

3) A reta-trajetória de HH, pode, portanto, ser dividida em um antes e depois: antes do Tratado e depois do tradado. E ao longo de toda a trajetória existem traços, pontos, que são os outros acontecimentos, que estamos chamando de Estações.

4) As Estações podem ser vistas como uma equação de Espaço + Acontecimento. Nesse sentido, identificamos, inicialmente, as seguintes Estações: Quarto da pensão / Taverna (onde HH bebe seu vinho solitariamente a fim de aplacar seu desespero) / Rua / Cemitério / Casa do professor / Garçoniére (local em que HH e Maria se encontram) / Salão de Baile / Teatro Mágico / As mil portas.

5) Também começamos a fazer um levantamento dos objetos que estão presentes nessa trajetória, alguns no antes, outros no depois do Tratado - e também a repetição desses objetos, mas com significados diferentes: Livros / Navalha / Vinho / Pinheirinho / Malas / Cinzeiros / Revistas / Caixa de aquarela / Vitrola / Discos / Máscaras do baile / Folheto do Tratado / Espelhos.

6) Pedro me falou de uma idéia que Marco André teve de fazer com que HH viva toda a sua trajetória, completamente, em cada ambiente (Estação). Começamos então a vislumbrar possibilidades. Por exemplo, no Quarto, HH começaria mergulhado em livros, deprimido, bebendo vinho, preparando a navalha pra sua morte; depois, lendo o folheto do Tratado, recebendo a visita de Hermínia, levando uma vitrola pra lá, tendo aulas de dança, fazendo amor com Maria, se preparando para o baile de máscaras... E depois? Depois, algum acontecimento faria com que o público se deslocasse para uma próxima Estação e lá HH viveria novamente toda a sua trajetória. Seria como se contássemos a trajetória de cada Estação, a partir da trajetória de HH. A idéia é bem interessante, o problema é que, fora o quarto, em nenhum outro ambiente HH poderia descrever sua trajetória completamente... A desenvolver.

7) Concluímos que algumas Estações podem ser sintetizadas. Ex: o Quarto e a Garçoniére; a Taverna e o Águia Negra; e um Teatro "Morto" (onde HH assiste uma ópera) com o Teatro Mágico.

8) Pensamos em futuros exercícios para os atores. O primeiro, foi o de todos trabalharem cenas como Harry Heller. Seria uma forma de nos apropriarmos do nosso herói e de também já entrar em contato com a questão da multiplicidades de Eu pela qual HH passa quando se depara com as mil portas do Teatro Mágico. A desenvolver.

(Daguerre)

sábado, 8 de dezembro de 2007

estações: paisagens da cena

uma imagem não se explica, não representa, é antes de tudo apresentação.
há uma tendencia um embate cena x texto. de certa forma as palavras agem simplesmente para explicar, justificar uma determinada cena, de modo que ela se torne mais comportada, verosimilhante, plausível dentro de uma estreita visão do que seja a realidade. tradionalmente então isso nem se fala: a cena se originaria da palavra
o que quero dizer é que a imagem, a paisagem cênica deve bastar por si mesma. a palavras não deve funcionar como uma compensação comprometida com idéias de razoabilidade, racionaliade, causalidade, explicação. a palavra deve ser restituída de sua potência poética, e não funcionar como um paliativo racional. a palavra deve ser mais uma camada da cena - assim como os atores, os movimentos, o jogo entre os atores, as atmosferas, etc. em se tratando de hesse que lida com imagens muito potentes que extrapolam o parêmetro "normal" de realidade não devemos ter medo de ousar neste sentido. vamos ao exemplo concreto:
pensou-se numa imagem inicial harry afogado numa montanha de livros. a palavra que aí entrar não deve justificar ou explicar a imagem "irreal" mas simplesmete ser mais um elemento da cena. ela não deve tentar ordenar dizer o porquê harry se afoga e seus livros, mas ao contrário intensificar ainda mais a imagem, fazer com que harry se afoque mais ainda. me lembro da cena do sub:werther onde a analista limpava o corpo de werther falando um texto de barthes -neste caso a palavra entrou em perfeita sobreposição com a cena!

a dramaturgia deve se ocupar da cena, dos atores, e também das palavras. pensamos então nas paisagens cênicas, estações. me questiono se o estilo de escrita, as palavras também não se modificam conforme a estação que se esteja. a paisagem cênica determina o tipo de palavras que se deve ser falada -assim armamos uma estratégia para fugir do tradicional dialogo dramático.

uma rápida listagem das possiilidades de palavras... (me veio algo mais radical ainda! não devemos pensar em palavras na acepção tradicional - palavra = ideia = sentido - mas sim devemos pensar em sonoridades, imagens sonoras contruídas de palavra)... mas voltando ao fio anterior: para além do diálogo, que estilos, o que a palavra pode?
ela pode ser prosa (como romance de hesse), ela pode ser poesia( como em hesse também), canção, ela pode ser descrição de um evento externo ou paisagem, ela pode ser descrição de um evento interno, pensamentos, ela pode ser um testemunho, épica, ela pode ser sonoridades fonéticas.
cada estação cênica determina seu estilo, sua palavra.
e ainda mais ela deve fugir ao esquema tradicional de interlocução, ou seja : emissor-receptor, ela deve ser multilocutória. pensar em dialogos simultâneos, ou estilos diferentes que se confontam : por exemplo uma pessoa tenta estabelcer um dialogo e o interlocutor só consegue descrever paisagens. e mais, pensar em silêncios duradouros que finalmente são explodidos por uma unica palavra. pensar em repetições de palavras. enfim! muitas possibildiade que não devem ser anulados por um certo estilo dominante.

Considerações Iniciais III

Personagens

- Temos evitado falar em personagens; ou melhor, temos falado que estamos evitando falar em personagens, dentre outras coisas, para não criar nenhum tipo de espectativas junto aos atores.

- Entretanto, é inevitável que toquemos no assunto, já que a obra de Hesse contém personagens que conduzem ou são conduzidos por suas narrativas.

- Ricardo Blat, como costuma dizer Marco André, é o nosso Romário, ou seja, ele não treina (pelo menos por enquanto), mas já está escalado, porque é um artilheiro nato, um matador, faz gol e resolve a parada. Ele é o nosso Harry Heller, o Lobo da Estepe. Portanto, um personagem definido.

- Ainda em O lobo da estepe, temos outros personagens que muito provavelmente estarão no nosso espetáculo, a saber: o Editor - sobrinho da senhora que aluga o quarto para Heller, este personagem pequeno-burgês tem uma relação ambígua com o Lobo da Estepe, de repulsa e encantamento; é ele quem publica os diários de Heller. Hermínia - mulher da vida que Harry conhece num restaurante e que lhe ensina muitas coisas importantes, como dançar, apreciar música popular (no caso o jazz), cortejar e amar uma mulher. É ela que vai apresentar a Heller outros dois personagens que também estarão provavelmente no espetáculo: Maria, jovem prostituta com quem Heller aprende a arte do amor; e Pablo, um saxofonista, o homem das substâncias, aquele que vai conduzir o Lobo da Estepe por entre o Teatro Mágico, que vai lhe mostrar as mil portas do seu Eu, aquele que vai lhe mostrar a importância do humor, que vai lhe ensinar a gargalhada dos imortais.

- Os outros livros que nos inspiram também trazem personagens que podem estar em cena. Deminan: Sinclair, uma espécie de jovem Harry Heller, Demian, seu amigo-mestre, e Eva, a mãe de Demian, a musa-ânima de Sinclair (assim como Hermínia é a musa-ânima de Harry). Sidarta: o próprio Sidarta, Govinda, seu fiél amigo, Vasudeva, o balseiro-iluminado, Kamala, a prostituta que ensina a Sidarta tudo sobre o amor físico.

- Notadamente, há possíveis entrecruzamentos dos personagens destes três livros de Hesse (e de outros, sem dúvida). É o caso de Sinclair e Harry Heller; Eva, Hermínia e Kamala; Pablo, Deminan e Vasudeva. Em O lobo da estepe, Heller acha Hermínia parecida com um amigo de sua infância de nome... Hermann.

- E aqui entra um outro entrecruzamento que já comentamos nos encontros: a obra de Hesse está intimamente ligada a sua vida. A descrição física que o editor faz do Lobo da Estepe poderia ser a descrição de Hesse; a idade e os antecedentes biográficos de Harry Heller bate com os de Hermann Hesse; fora que os nomes têm as mesmas iniciais: HH. O mesmo se dá em Demian, obra de um Hesse jovem que retrata a errância de um jovem que teve a mesma criação que ele.

(Daguerre)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

O lobo da estepe - Considerações Iniciais II

A itinerância

- Desde os primeiros encontros, falamos que o espetáculo será itinerante, ou seja, vai conduzir os espectadores por diversos ambientes dentro do espaço em que a peça será apresentada.
- Se eu não me engano, essa idéia surgiu com a possibilidade de estrearmos nO Tablado, cujo prédio propicia tal empreendimento: tem uma sala de leitura, um pátio esterno, acesso aos camarins, coxias, palco e platéia...
- Uma coisa leva a outra: observamos que os livros de Hesse operam por módulos ou estações. O lobo da estepe é dividido em três partes, a Nota do Editor, O Tratado do lobo da estepe, e o relato de Harry Heller propriamente dito. Também percebemos que, Sidarta, por exemplo, desloca-se para lugares muito bem definidos, com "cenários" e "personagens" bem delimitados: os brâmanes, os sâmanas, o prostíbulo, a casa do comerciante, a casa do balseiro na beira do rio... Ou seja, esses ambientes, são como estações em que o herói vai errando até atingir, por assim dizer, a iluminação.
- Como provavelmente vamos estrear na Sala Multiuso do Sesc Copacabana, vamos manter essa idéia de itinerância dividindo o espaço em ambientes distintos, por onde o público será conduzido (Flávio Graff vai propor uma solução bacana, com certeza, mas o Marco André já têm ventilado a possibilidade de usarmos filós que com a iluminação genial de Renato Machado possibilitarão efeitos diversos).

(Daguerre)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

título?

começar logo pelo título?
dizem que ele deve ser a cereja do sorvete.
e, de fato, acredito que seja. ainda é muito cedo para saber o nome de tudo o que vai vir pelos próximos quatro meses.
parece me que não será lobo da estepe. não seir o que será. mas vai vir um nome bem interessante, com certeza.
gosto muito da ênfase no Teatro.

O lobo da estepe - Considerações iniciais I

O título

- Os três livros principais de Hesse que estão nos inspirando são: O lobo da estepe, Sidarta e Deminan.

- Já sabemos que a peça não será uma adaptação de nenhum livro de Hermann Hesse, nem mesmo daquele que é nossa maior inspiração, “O lobo da estepe”. Entretanto, fomos aprovados no Miriam Muniz com este título e a possível pauta no Sesc Copacabana igualmente foi defendida com ele. Dessa maneira, independente das questões artísticas, o nome do espetáculo terá que ser uma variação deste livro de Hesse. Sugestões? 

- Temos pensado em fazer uso de um subtítulo, que vai variar de acordo com os dois espaços em que vamos nos apresentar: o Sesc Copacabana e O Tablado, porque os espetáculos serão diferentes em cada espaço, já que os espaços são bem diferentes. A idéia mais comentada tem sido: Primeiro Tratado e Segundo Tratado. Em aberto.

(Daguerre)